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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Calma e Elegância sempre.

No voo todos os dias muitas coisas acontecem, são muitos os conflitos que temos que gerenciar à bordo a cada etapa de voo. Lidar com a pressão do pessoal de solo por conta da pontualidade, problemas com passageiros, bagagens de mão, avião lotado e de quebra ainda vem as demandas da tripulação.

Todos estes fatores são desafios que temos de enfrentar para que o voo saia o mais perfeito possível. Por isso manter a calma e a elegância nestas horas faz toda a diferença. Antes de tomarmos qualquer decisão é muito importante avaliar os riscos, consequências e que impactos aquilo pode causar na operação e também em nós.

Um bom profissional, seguro de si, que consegue se manter calmo mediante as situações de instabilidade faz toda a diferença para sua equipe. Transmite segurança, tem sempre o controle da situação em suas mãos e é capaz de fazer com que as coisas fluam de maneira sensata e trás sempre bons resultados.

Lembre-se que você comissário é um agente de segurança. Você é um espelho para os passageiros e para os seus colegas. Se voce domina a situação, logo tem nas mãos a oportunidade de definir o rumo que as coisas devem tomar em uma situação de instabilidade. Portanto mantenha-se calmo, seja elegante ao se pronunciar e fera sempre as pessoas com você, sua equipe lhe seguirá e seus passageiros sentir-se hão seguros em seu voo.

Procure estar sempre a par dos procedimentos, embasado nas normas e orientações dadas pela companhia e você estará sempre preparado. Lembre-se calma e Elegância sempre, não ceda às pressões externas, busque alternativas, recursos, tenha o controle das situações e as coisas se resolverão na maioria das vezes da maneira que você as conduzir.

Não absorva as energias ruins, elas farão mal a você. É importante que tenha ciência de que o problema do pax é com a cia e não com você. Você apenas é um condutor de informações, mostre a ele os caminhos, alternativas disponíveis e se você não conseguir trazê-lo para a luz não fique mal, na companhia sempre terá alguém em algum setor competente para lidar com isto.

Dê sempre o seu melhor dentro das suas possibilidades e com os recursos disponíveis. Lembre-se disto; Calma e Elegância sempre, faça dos seus voos os melhores possíveis.
Bons voos a todos. Até breve...

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Absorva o que é bom. Coisas ruins devem passar.

Senhoras e senhores, tudo bem? Espero que sim. vamos trocar uma ideia sobre como é bom estar entre pessoas boas, uma tripulação "massa" como diriam os baianos faz toda diferença no voo. Não há voo ruim quando a equipe está afinada e engajada. Tudo flui perfeitamente e até os problemas se tornam meros detalhes. Acredito muito na energia que as pessoas transmitem umas às outras, é bastante importante não nos deixamos contagiar por energia ruim, ela é prejudicial, nos faz um mal danado e é sobre isto que vamos falar hoje. Pegue logo sua barrinha de cereal com suco diet e vamos nessa.

Existem situações corriqueiras do dia a dia que nos deixam inquietos. Às vezes coisas bobas mexem em nossa mente e nos faz sentir mal, um mix de indignação, incerteza, às vezes até a insegurança surge e nos joga para baixo. Nós comissários de voo lidamos com um número muito grande de pessoas diariamente, Passageiros que entram e saem de nossas aeronaves, cada um com um humor diferente, razões para viajar são as mais diversas possíveis, colegas de trabalho de diversos lugares, culturas opostas às nossas, características e temperamento diferentes podem causar choque de vez em quando e isto deve ser sempre administrado de forma assertiva e com sabedoria.

Não devemos nos deixar influenciar pelas coisas ruins, no máximo elas devem nos servir de fonte de reflexão e ensinamento. Há poucos dias passei por uma situação em que senti minha reputação sendo abalada, senti minha competência em cheque, passei dias me sentindo mal por algo que ouvi, cheguei a duvidar de minha capacidade e isto me fez refletir, pensar sobre os acontecimentos da vida, circunstâncias que nos deparamos e seu significado.

Creio que tudo na vida tem um porquê, nada acontece por acaso em nossas vidas. Mesmo os piores acontecimentos servem de aprendizado e lição de vida para que possamos nos tornar seres melhores. Não absorva as energias ruins, o lixo dos outros deve ser carregado por eles, deixe passar os maus exemplos, as mas referências, elas apenas nos ensinam como nos não devemos ser.

Absorva as coisas boas, o legado deixado por aqueles que nos servem de referência, às nossas influências, a estes sim nós devemos nos apegar e guardar tudo o que pudermos pois nos moldamos a partir de suas histórias, exemplos deixados e ensinamentos passados. Guarde as boas lembranças, recordações de momentos marcantes. Pessoas especiais e suas atitudes nos fazem bem e devem ser sempre lembradas pois nos ensinam muitas coisas na vida. Estas energias devem ser absorvidas e armazenadas em nossa memória pois um dia você irá influenciar alguém, talvez terá a oportunidade de ensinar algo para uma ou mais pessoas, e o fará com excelência pois terá em sua memória boas referências de como fazê lo.

A vida é esta, Colhemos tudo aquilo que plantamos, plante o amor, a paz, a justiça e a espiritualidade e com certeza até as energias e pessoas ruins se afastarão de você. Você colherá bons frutos em sua passagem por esta vida e deixará um legado de inspiração e admiração aos que ficarem. Lembre se que sua história é você quem escreve, faça dela a melhor possível, você viverá bem e fará bem a quem lhe cerca. Um forte abraço, bons voos e até breve.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Não seja mecânico, seja humano.

Olá meus caros, hoje quero falar sobre algo que tenho observado em alguns colegas, que é bastante comum em várias áreas de atuação e que me preocupa como ser humano. Falaremos sobre o engessamento, robotização e inflexibilidade de comissarios de voo, por que isto deve ser evitado e possíveis formas de gerenciamento.

Sabemos que na aviação o alinhamento de procedimentos é fator primordial para garantir a segurança e o sucesso das operações. Uma companhia aérea é cheia de manuais, guias com orientações que nos guiam para o cumprimento dos procedimentos e regulamentações que regem a aviação como um todo. Um comissário de voo ao ser admitido em uma empresa aérea passa por dias de treinamento até que esteja apto a exercer sua função a bordo de aeronaves e todo ano é submetido a checks e avaliações de proficiência para certificação de habilidades técnicas e manutenção de habilitações.

Observo que a questão técnica é bastante explorada pelas companhias, a qualidade nos setores de ensino é inquestionável. Alguns  treinamentos são elaborados de forma que os tripulantes possam adquirir o conhecimento de forma eficiente através de movimentos de repetição e de maneira didática e prática.

Sinto que a questão humana embora seja trabalhada constantemente, é um desafio e tanto na preparação de profissionais, independente de sua área de atuação no mercado. A questão comportamental é bastante complicada e desafiadora pois depende de cada profissional, cada um tem suas convicções, crenças, temperamento e personalidade próprios. Aí nos deparamos com o primeiro de nossos desafios: o Engessamento.

Algumas pessoas têm certa dificuldade em compreender os procedimentos de forma a entender a fundo seu princípio de funcionamento, a real necessidade de fazer com que aquilo funcione de determinada maneira e as consequências possiveis em caso de não cumprimento ou necessidade de adaptação e improviso em algum momento na operação. Assim tornam se engessadas,  incapazes de enxergar além do que está escrito caindo assim em nossa segunda vilã: a Robotização.

Quem nunca passou por uma situação em que precisou da ajuda de algum profissional para resolver determinado problema e simplesmente ouviu um NÃO como resposta? E quando questionado sobre a situação o profissional apenas disse "Porque não"!  Ou "O porque o procedimento não é este"! Pois bem, vejo que na maioria das vezes em que isto ocorre estamos lidando com alguém robotizado, preso a procedimentos como se fosse uma máquina que se programa, insere um chip com informações e ela as cumpre. Incapaz de interpretar, avaliar e possivelmente adaptar se à situação utilizando de aplicação de essessao à regra proposta.

Veja, entenda que não estou estimulando o descumprimento de regras ou burlagem de procedimentos. Estamos tratando aqui de uma questão de flexibilização que claro, só ocorrerá se cabível à situação e está previsto que isto ocorra em algum momento. E aí acabamos de descobrir nosso terceiro desafio que é exatamente a inflexibilidade de alguns profissionais em certos momentos de suas carreiras.

Ser flexível está diretamente ligado à utilizar se de bom senso, sensatez e capacidade de discernimento. Este fator está totalmente atrelado a questão humana nas organizações e sabemos que como profissionais às vezes encontramos certas limitações que nos impedem de utilizar deste recurso para gerir conflitos ou situações adversas. No entanto sempre que possível deve se avaliar o cenário, por o bom senso prática e se for cabível à situação, seja flexível. Gerencie as situações sempre ponderando e prezando pela sensatez e principalmente, seja justo.

Ser humano significa importar se mais com o próximo, ter empatia por alguém que precisa de ajuda e preocupar se com as pessoas ao seu redor. Não seja como uma máquina, incapaz de raciocinar, sentir e buscar por melhorias sempre. Algumas pessoas se prendem a meros detalhes e perdem grandes oportunidades de fazer a vida de alguém melhor mesmo que por um instante, perdem a oportunidade de amadurecer e evoluir. Os detalhes existem para que sirvam de parâmetros que nos ajudarão na tomada de decisão, nos guiarão para que possamos fazer sempre o nosso melhor dentro um nível aceitável de perfeição.

Se você é leitor frequente aqui do blog já deve ter percebido que bato muito nessa tecla. Acredito e muito no potencial das pessoas de se desenvolverem e se tornarem seres melhores. Lidar com o fator humano é sem dúvidas um desafio e tanto, cada pessoa é unica, detentora de uma personalidade impar, as vezes ate parecida com outra mas numca igual, cada um tem um temperamento, limites e necessidades diferentes. É muito importante que sejamos capazes de sentir e identificar esses pontos ao lidar e interagir com pessoas.

Como já disse em outros posts, você nao precisa mudar sua personalidade, seus hábitos e preferências. Basta que saiba administra-los,  tenha a capacidade de adaptar se às situações impostas e verá o quanto nos faz bem ajudar e impulsionar pessoas a conquistar algo que ainda não viveram, são as pequenas coisas que fazem a diferença e fazem a vida ter algum sentido. Publiquei um texto que se aprofunda um pouco mais nesta questão da empatia e humanização da sociedade, confira em makingoffdavida.wordpress.com. Deixarei o link do texto na descrição para que você possa acessá lo.

O ego é algo perigoso e necessita de atenção redobrada pois algumas pessoas acreditam que podem destratar aos outros, às vezes até mesmo humilhar os colegas simplesmente por estarem cumprindo normas à risca e "embasadas em procedimento". Como vimos no inicio deste artigo, antes de por algo em pratica é extremamente necessario que se entenda o principio de funcionamento, os mecanismos presentes e a causa maior por trás de cada norma ou procedimento. Fuja da visão de túnel, veja as coisas de maneira ampla, olhe além das fronteiras e terás discernimento e sabedoria ao tomar decisões, agir e definir o rumo que as coisas devem tomar. 

Nós comissarios de voo lidamos diretamente com pessoas e temos várias oportunidades de fazer o bem diariamente. Não as deixe passar, pratique o bem, seja justo, importe se mais com as pessoas a sua volta e verá que a vida se torna muito melhor quando a humanidade se faz presente em nossas vidas. Vivemos melhor e proporcionamos o mesmo a quem nos cerca. Fique bem, bons voos e até mais.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

A Aviação realmente encurta as distancias

Já ouviu falarem que o mundo é pequeno? Pois é, ele realmente é um ovo. Quando menos esperamos acabamos reencontrando alguém que não víamos a anos, às vezes décadas. Quem nunca teve a oportunidade de reencontrar um velho amigo de infância, um professor do colegial ou mesmo alguém que já foi seu vizinho no passado? Com certeza você já passou por essa experiência um dia na vida. Se para pessoas normais esta situação já é bastante comum, para nós da aviação então, as chances são ainda maiores. 

Este é sem dúvidas um dos prós da nossa profissão, reencontros são ótimos, rever velhos amigos, relembrar antigas histórias e dar boas risadas é um dos maiores prazeres da vida. No post de hoje trago um evento que fez a diferença em minha vida, marcou, me fez refletir sobre muitas coisas e quero compartilhar com você. Pegue agora mesmo sua barrinha de chocolate, um bom café e vamos nessa.

O ano era 2015, mês de julho, a Aviação estava uma loucura, alta temporada, voos lotados, correia geral. Cheguei no aeroporto para embarcar de CAT II rumo a sao paulo para assumir programação de voo, como de costume, parei na conveniência para pegar um café enquanto o embarque se iniciava. Fiquei por ali durante alguns minutos e de repente reparei que alguém me observava, um rapaz aparentando ter minha idade ou algo bem próximo disso, bem vestido, usava terno, gravata e tinha com sigo uma pasta de couro padrão executivo.

Fiquei incomodado pois aquele rapaz não tirava os olhos de mim, parecia observar cada movimento, logo pensei ser alguém da firma avaliando algo em mim, essas coisas acontecem. Passaram se alguns minutos e quando me preparava para levantar e me dirigir ao portão de embarque ele se aproximou, muito educado, me cumprimentou e perguntou meu nome. Perguntou se eu o reconhecia e logo afirmei não fazer a menor ideia de quem se tratava, conversamos por alguns minutos até que ele se identificou e fiquei surpreso ao saber quem era.

Tratava se de Fernando Silveira, um velho amigo dos tempos de escola, ensino fundamental. Não nos víamos a pelo menos uns 20 anos; ele estava bastante diferente, eu jamais o reconheceria. Por coincidência pegariamos o mesmo voo, embarcamos e ele foi me contar sobre sua vida.

Havia se formado em direito, exatamente como falava quando criança, morava em Sao Paulo e estava em Belém a trabalho. Ele começou a relembrar acontecimentos passados e como um filme as cenas se reproduziam em minha mente, parecia estar vivendo tudo aquilo novamente, pessoas, lugares e circunstâncias. Aquele moço tinha mesmo uma memória muito boa.

Quando criança meus pais pagavam uma irmã de um colega da rua para me levar para a escola, ela levava seu irmão e mais algumas crianças da rua todos os dias pela manhã e buscava a tarde. Uma dessas crianças era o Fernando, raquítico, de família bem humilde, tinha muitas dificuldades para aprender as matérias, ouvi uma vez uma professora dizer que ele jamais concluiria o ensino fundanental, pois em suas palavras ele "nao tinha capacidade para sair daquela escola com um diploma".

Fernando me fez relembrar que certa vez me pediu ajuda com uns exercícios de matemática, ele não conseguia fazer contas de divisão. Sentamos em baixo de uma mangueira que tinha na frente da escola e ficamos ali por algum tempo até que assimilou o conteúdo e então fomos para casa. Nesta ocasião ele estava bastante frustrado pois a fala da professora havia caído como uma bala em sua mente, ele sentia se inferior pois não conseguia acompanhar os colegas de escola, ja havia repetido o ano uma vez e estava prestes repetir novamente.

Pois bem, o tempo passou e aquele garoto conseguiu alcançar o sucesso, terminou o colegial, entrou para a universidade e se tornou advogado. Representa o corpo jurídico de uma grande organização e contrariando a opinião daqueles que desacreditavam de sua capacidade não só superou suas dificuldades como segue inspirando e influênciado pessoas ao seu redor onde quer que esteja. Tudo isso é fruto de sua determinacão e perseverança.

Me senti orgulhoso de ver um velho amigo em uma posição favorável, saber que ele se Deu bem na vida, não desistiu apesar das dificuldades e desafios que teve de enfrentar em ao longo do caminho. Me sinto muito bem ao ver o sucesso das pessoas que gosto, e principalmente aquelas que de alguma naneira eu ajudei em algum momento da vida. Fernando é um dos muitos exemplos que guardarei na memoria e levarei como referência, para a vida toda, sua história realmente é uma fonte de inspiração e motivação para muitos.

É necessário manter o foco e não desviar do tema do texto mas em alguns casos isto é praticamente impossível pois existem detalhes que realmente tenho que citar pois fazem toda diferença. Agora voltando ao assunto principal deste artigo, a reflexão que faço é a seguinte, será que se eu não estivesse na aviação esse reencontro teria acontecido? As chances são muito pequenas e este é apenas um exemplo dos muitos reencontros que já tive nestes quase dez anos trabalhando nesta área. Sinto que não vim parar na aviação por acaso, as experiências que tenho vivido só me fazem crer que os planos de Deus são sempre perfeitos e que nada acontece sem que haja um propósito.

A mensagem que deixo é a de que devemos sempre fazer o bem. Ajude a quem precisa sempre que puder pois o mundo realmente é bem pequeno, e gira a uma velocidade impressionante. Lá na frente em uma dessas voltas talvez você reencontre alguém que no passado participou de sua história de alguma forma e suas atitudes de hoje farão toda diferença neste reencontro. Será muito mais prazeroso ver que a semente que um dia você plantou germinou e deu frutos, sentirás orgulho de si, de suas atitudes, escolhas e terás a certeza de que está cumprindo sua missão de maneira satisfatória. Pense, vale muito mais a pena fazer o bem, o céu nos recompensa de maneira surpreendente quando menos esperamos isto nos faz muito bem.
Uma ótima noite a todos, bons voos e até breve.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Por que decidi voar? Minha Carreira em detalhes

Ladies and Gentlemen, boa noite. mais uma segunda feira, dia de postagem por aqui e hoje vou falar um pouco de mim, como foi meu inicio na aviação, por que decidi voar e como consegui isto em um periodo de tempo razoavelmente curto. Em alguns posts passados já deixei escapar alguns fatos sobre minha carreira, minha história com a aviação porém nunca fiz uma postagem exclusivamente para isso. Portanto, pegue sua caneca de chocolate quente e os biscoitos e sente-se que lá vem história.

Eu nunca fui ligado à aviação, nao tive parentes neste meio e não, não foi meu sonho de infância. Durante bastante tempo quis ser advogado, farmacêutico ou economista, no entanto os anos foram se passando, os planos foram mudando e descobri que na verdade essas áreas não tinham nada a ver comigo. De repente me vi concluindo o ensino médio e bateu aquele desespero por não ter nenhum interesse em ingressar em uma universidade, nenhum curso me agradava, não tinha paixão por nenhuma área de atuação. Em algum momento até pensei em estudar música mas logo desisti e achei que não faria futuro nenhum com este curso.

O ano era 2007, estava prestes a sair do colegial e precisava apresentar a meu pai vocação por algum curso universitário, e ele já vinha me cobrando isto ha alguns meses. Alguns de meus primos já tinham definido suas metas, alguns já estavam na faculdade e os cursos eram Medicina, Farmácia, veterinária e direito. me sentia pressionado pois era inaceitável para a familia que eu como um dos netos mais velhos não trilhasse um caminho á altura dos demais. eu tinha que surpreendê-los o quanto antes.

Pois bem, o tempo passou, conclui o colegial e nada, de me dicidir para que lado ir, até que certo dia conversando com um conhecido que era do ramo hoteleiro e ele contando algumas coisas sobre as tripulações, os comissários que ficavam no hotel em que ele trabalhava e de repente uma luz se acendeu para mim. Comecei a me interessar em saber mais sobre aviação, fiquei curioso sobre os caminhos que teria que trilhar para me tornar um comissário de voo. Nao demorou muito para eu descobrir que realmente eu havia me achado, encontrei uma área de formação que me agradava, algo que eu realmente sentiria prazer em fazer.

Fui correndo contar ao meu pai que já tinha algo que queria fazer, eu finalmente iria me formar em alguma coisa na vida e já estava buscando meios para me matricular no curso de comissário de voo. Mas como nem tudo são flores, nao consegui convencê-lo de primeira. Nessa época a aviação estava um caos, a Varig tinha acabado de fechar as portas, os noticiarios nao mostravam outra coisa a não ser as manifestações dos tripulantes lutando para receber ao menos os seus direitos trabalhistas, pessoas que já tinham vinte, trinta anos naquela empresa e de repente haviam perdido tudo. O velho ao ver aquilo tudo nao pensou duas vezes antes de me dar um NÃO como resposta, me mostrou a noticia no jornal e disse: "Este será o seu futuro se não tirar essa ideia boba da cabeça".

Você pode estar se perguntando como pode em pleno século 21 a familia ainda decidir, ou opinar sobre a formação dos filhos; pois é, para falar a verdade não sei como lhe explicar isso, não os culpo por nada e sinceramente, acho que os entendo. Essa questão é bastante relativa, depende da criação de cada um e creio que não trata-se de estar certo ou errado, os pais se preocupam com o que seus filhos fazem, quem eles querem ser na vida e realmengte deve ser bastante frustrante esperar uma coisa de alguém e de repente a pessoa lhe surpreende com uma ideia totalmente oposta ao que você pensava. O choque e muito grande. Este é sem dúvidas o primeiro desafio para muitos jovens no inicio de suas carreiras.

Durante algum tempo insisti na ideia de entrar para a aviação até que um dia meu pai falou sério comigo e me disse: "você até pode entrar para a aviação, mas antes vai entregar um diploma em minhas maos". Meus amigos, aquilo me frustrou de tal maneira que chorei  por horas sem parar. Na semana seguinte fui fazer a inscrição no vestibular, fui sem a menor pretenção de passar, eu não havia estudado quase nada, me inscrevi para licenciatura em Língua inglesa e Administração de empresas. No mês seguinte fiz a prova e voltei para casa, a ideia de entrar na aviação ainda estava ali intença como chama fumegante em minha mente, mas precisava por aquilo de lado e me concentrar em entrar na faculdade pois o quanto antes eu a concluisse melhor seria, pois pegaria minha "carta de alforria" para poder seguir meu sonho.

Passados alguns dias saiu o resultado do exame e para minha surpresa, passei em segundo lugar para cursar Administração. Realmente não havia mais o que fazer, com aquela média era impossivel desistir do curso. Pois bem, iniciei a faculdade e em paralelo continuei a buscar por um emprego na aviação, a essa altura eu já estava decidido que queria trabalhar na Gol, não sei dzer ao certo o que me cativou nesta companhia, só sei que foi amor à primeira vista. Então vieram o primeiro, segundo, terceiro e quarto semestres do curso superior e de repente conheci uma pessoa adoravel e sem duvidas um dos melhores amigos que já fiz. Edivan Menezes, este rapaz trabalhava no aeroporto em uma empresa de suporte de solo e tinha como hobby e grande paixão as maquetes de aeronaves que fabricava em suas horas vagas. Através da paixão pela aviação Deus nos aproximou  e meses depois eu consegui uma vaga de emprego em uma empresa de handling no aeroporto de Belém graças à sua indicação.

Trabalhei no grupo RM por onze meses. periodo suficiente para fazer novas amizades, demonstrar meu interesse em fazer parte do time de águias e consegui chamar a atenção do gestor da Gol Belem naquele curto espaço de tempo. A essa altura o ano ja era 2011. Por muitas vezes ouvi que eu jamais conseguiria migrar para uma companhia aérea, meu superior imediato na empresa de handling tinha um talento impressionante para desanimar pessoas, ouvi frases do tipo; "Lugar de peão é  na pista carregando malas","você jamais sairá daqui". Ainda na RM conheci meu amigo, irmão e compadre Alan Moura, ele me achava maluco pois sempre falava que um dia estaria  na Gol, ele dizia que eu era fanático e pirado por aviões. Não demorou muito para que ele começasse a me seguir e embarcamos juntos rumo à laranjinha já no final do ano.

O curso de Administração avançava a todo vapor rumo ao 5º semestre, Meu velho pai ao ver que eu não largaria o osso, e que meus planos estavam se concretizando, começou a afrouxar as rédias e me deixou um pouco mais a vontade em minhas escolhas.

Vieram as seletivas, e já em 2012, mais precisamente no mês de Abril ingressei na Gol como Auxiliiar de aeroporto. O Alan havia entrado um mês antes, em Março. Pois é, ele me chamava de louco e acabou entrando na cia aérea antes de mim. Sou muito grato a Deus e à empresa que me abriu as portas da aviação, talvez se não fosse esta oportundade hoje nao estaria onde estou, mas devo confessar que no dia que entreguei meu crachá ao gerente da RM, aquele que por vezes me desmotivou, foi como se tivesse removido um peso de minhas costas, entreguei o lugar com dignidade, saí  pela porta da frente e provei a ele que não importa quão pequena é a fé daqueles que nos colocam para baixo, e sim o quão grande é a nossa fé e a nossa força de vontade.

Fiquei em Belém por quase três anos trabalhando em solo e a experiência foi surreal, sinto que eu precisava passar por este step, o conhecimento agregado e a bagagem que trago deste período são impagaveis, não tem preço. Você pode discordar de mim, mas acho que todo comissário deveria trabalhar um periodo no aeroporto antes de ir para o voo, quem passa por essa experiência sai muito mais seguro, e consegue ver as coisas de uma ótica diferenciada, a visão se torna muito mais ampla.

Mas Walacis, e a faculdade? Pois bem, o curso estava avançado, já no sexto semestre quando tive que parar. Ficou difícil conciliar trabalho e estudos, as médias começaram a cair e nesse meio tempo a  universidade entrou em crise e acabou fechando as portas. Tive ainda a oportunidade de terminar o curso em outra instituição porém optei por nao fazê-lo. Resolvi seguir carreira na avição, meu sonho estava prestes a se tonar realidade e nao havia mais tempo a perder.

Em 2013 fiz o curso de Comissário de voo. Concluí no final de ano, prestei a banca da Anac já no inicio de 2014. Obtive a aprovação na banca e a companhia anunciou a abertura de processo seletivo interno para tripulantes. Deus fez tudo de forma perfeita, as coisas foram se encaixando e aos poucos um sonho ia tomando forma, se realizando conforme tinha de ser. Foram várias as fases do processo seletivo; já fiz um post aqui contando esta experiência, confira lá. Após quase dois meses de tensão, aguardando  e-mails entre uma etapa e outra do processo, no dia 01 de setembro do mesmo ano meu sonho estava realizado, tudo aquilo que eu sonhei durante anos, tudo que eu imaginei estava se cumprindo. Começava então o ground school da turma 128 de comissários da Gol linhas aéreas e eu estava lá, entre os trinta melhores de mais de 2 mil candidatos.

A essa altura meu pai já morria de orgulho de ter um filho comissário de voo de uma grande empresa brasileira, vivia curtindo suas viagens de avião por aí e estava tudo certo. Foram pouco mais de cinco anos de uma experiência incrível como comissário auxiliar, uma reputação construida com muito empenho e dedicação e Deus mais uma vez me surpreendeu de uma maneira tão maravilhosa que não tenho palavras para agradecer. Em 2019 me tornei Chefe de Cabine, mais um degrau conquistado com sucesso, mais um fruto colhido em minha árvore na vida, trazendo consigo a certeza de que fiz as escolhas certas, trilhei pelos caminhos corretos e honrrei a todos aqueles que acreditaram em mim. Sei que muitas outras conquistas virão e aguardo ansioso por cada uma delas.

A mensagem que deixo é a seguinte: Não importa o quanto lhe chamem de louco ou digam que você não é capaz. Tudo depende exclusivamente de você, sua fé, força de vontade e perceverança farão toda a diferença. Acredite,  você pode ser quem você quiser ser e pode estar onde quiser estar, basta que queira verdadeiramente e faça por merecer. Boa noite, tenha uma ótima semana.